quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

MEU PRÓPRIO CIGARRO




Os dias passam como horas e as horas como séculos, quando a ansiedade nos desprende do presente e transporta o espírito para uma esfera descolada do agora. Vi teus olhos tristes, mais uma vez, tentei te culpar pela minha tristeza, quando na verdade meu coração já havia me sentenciado.
Encontrei a paz no teu olhar e enxerguei a tempestade em teus cabelos, me fiz escudo pra te proteger e mal sabia que eu não tinha tanta força assim... teus cabelos me envolveram como correntes e teus olhos se fizeram espelhos que traduziam a fraqueza que eu não conseguia ver em mim.
Quantas vezes aprendemos nosso egoísmo por querer o que não temos e esquecemos de ver a beleza daquilo que possuímos. Provações em provocações, que testam nossa fortaleza e a fidelidade dos sacrifícios, de corações humanos em decorações de altares divinos, em honra a deuses que foram tão humanos quanto nossas fraquezas.
Sentando a sombra que assombra, no limite muito tênue entre divinizar os homens e humanizar os deuses. Vivendo a inconstância de não saber o que renunciar, pois amar traz em si desafios e aceitar o outro expõe toda a dificuldade que é, por muitas vezes, negar a si mesmo. 
Tragando ares da minha própria fragilidade, como se respirasse a fumaça do meu próprio cigarro, de forma a me contaminar um pouco mais. Começo a me olhar em teus olhos e me vejo como há muito não me via, um futuro sem passado como quem desperta de um coma profundo e não sabe se está em transe ou se tudo é da forma exata como enxerga. Inalando fumaça tóxica dos meus próprios pensamentos, exalando odores de desconforto, de modo a afastar até mesmo o que mais te agrada em mim.