terça-feira, 17 de maio de 2011

OS HERÓIS DO PASSADO E SUA FORÇA POLÍTICA NO PRESENTE




O célebre escritor Lima Barreto, certa vez inferiu a seguinte frase: “O Brasil não tem povo, tem público”. Há de se convir que tal idéia se faz tão presente e atual quanto há praticamente um século. Mas as responsabilidades pelo escasso e reduzido envolvimento da população não é demérito unicamente do desinteresse das massas. Deve-se levar em conta uma série de fatores, entre os quais, todo uma aparato ideológico a serviço do Estado e das elites, que objetivam cada vez mais distanciar o povo dos centros de decisões políticas.
Remeto-me aqui há alguns elementos passíveis de discussão e que se fazem sentir no âmbito da educação, os quais em minha prática de educador e pesquisador da linha de História, Trabalho e Movimentos Sociais, se tornam perceptíveis mediante a uma análise mais detalhada. Tais elementos acabam por revelar parte da reprodução da dinâmica excludente do capital e dos mecanismos de despolitização popular – sem, é claro, desconsiderar a influência deturpadora da mídia, a competição desigual com formas mais atrativas do mundo virtual, o sucateamento do ensino, etc.
No caso específico do ensino de História, o que se percebe mediante uma análise mais centrada nos conteúdos dos livros didáticos e apostilas, bem como na atuação de muitos professores, é uma mera reprodução dos discursos oficiais, tomando os mesmos como verdades absolutas, reificando imagens de um passado construído a partir de grandes personagens, lendários heróis, líderes grandiosos, como Napoleão, Hitler, Tiradentes, D. Pedro I, Getúlio Vargas, J.K., entre vários outros.
Esse cenário é facilmente desconstruído diante de algumas poucas indagações: Tiradentes foi o único inconfidente? Por que apenas ele pagou com a vida? Talvez por ser o de menor condição social entre os demais? E quanto a D. Pedro, quem e quais interesses o envolviam por ocasião da “independência”? Houve participação popular? Outrossim, Getúlio Vargas apenas foi um homem de sensibilidade extrema ao criar a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) ou existia todo um cenário de greves e manifestações de trabalhadores por melhores condições?
Trabalhar com a supervalorização do papel histórico desses “grandes personagens” implica excluir a participação do povo no processo histórico, logo extraindo parte de sua capacidade de mobilização, deixando-os a margem, unicamente como receptores das benevolências de um mito que talvez nunca tenha existido tal qual retratado nos livros. O problema reside na internalização, muitas vezes inconsciente, do mito no imaginário popular, o que acaba por fazer com que as pessoas esperem passivamente a emergência de um novo herói, que revestido de luz irá salvar o país desse imenso mar de lama.
Não basta a crítica pura e simplesmente pela crítica. É necessário compromisso político – e isso não implica partidarismo –, criando condições reflexivas e produção de saberes que elevem o aluno à condição de cidadão e a escola a um local propiciador de um fazer político. O ambiente escolar deve conduzir a reflexão crítica da realidade vivida, bem como à necessidade de construir a política e a história diariamente, através de práticas cotidianas que desvelam relações sociais mais justas e não unicamente sendo empurrado a de quatro em quatro anos retirar o titulo de eleitor já empoeirado do fundo de uma gaveta, na esperança de dessa vez acertar.

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