quarta-feira, 22 de junho de 2011

DEFINIÇÕES EM METÁFORAS




Tão estranho quanto o dom de enxergar as vozes que me assistem nas mais absurdas horas é não conseguir dormir em monótonas madrugadas e desligar completamente em plena atividade física e cerebral. Como num transe que leva para outro lugar, uma sensação que me arrebata e faz perder a hora de voltar.
Muitas das palavras que definem minha vida não são minhas, mas é como se tivessem sido escritas por mim. Pensando bem, talvez muito de minha vida tenha se construído a partir de orientações de palavras que, no momento certo, na hora exata, em músicas sussurradas, votos de silêncio, livros folheados ou solos de guitarra, tenham fluído e se presentificado numa lógica que torna tudo coincidente demais para uma mera coincidência ou sem destinatário para se pensar em destino.
Assim como o rubro do fogo e o negro da alma parecem assombrar a solidão, a fogueira ilumina caminhos que dissipam as trevas da vaidade. A solidão se torna encontro e nós cada vez mais nos tornamos mais parecidos conosco mesmo: certos de nossos abandonos, corretos de nossas renúncias, crentes em nossas escolhas, repletos de nossos sentidos, com dúvidas de todas as certezas, preenchidos de todo vazio que pode existir... simplesmente nós mesmos.
Vejo tatuagens que nunca fiz, símbolos astecas que imagino compreender, metáforas que não dizem nada mas já me bastam, palavras que não se pronunciam e ainda assim as escuto, visões do passado presentes no futuro, cânticos religiosos entoados em rituais pagãos, opiniões que se alteram com os sinais dos tempos, roupagem que se metamorfoseia em cinzas e renasce em chamas, para tingir de significados tudo aquilo que outrora não significará nada.
Entranhas da alma, de pactos talhados em pulsões de vida e desejos de morte, Eros e Tanatos, estranho banquete que culmina em conjunção carnal, sem vícios ou virtudes, simplesmente desenhos do que somos, talvez algo que nunca estará pronto.

quarta-feira, 22 de junho de 2011.

2 comentários:

  1. Lelo... Quanto tempo.... Gosto do seu jeito de escrever!!! Me levou a lembrar de muito do que tenho refletido durante esse período de estudos super intenso: que nós não somos nada lineares, assim como contemporaneidade nos faz acreditar... Cada voz, cada passo, cada luz, cada música que ouvimos vão compondo a nossa história como um mosaico cheio de representações diferentes... Mia Couto, um autor angolano, ja dizia: "somos híbridos por natureza" e eu acho que essa é a beleza que nos faz seres humanos!!! Continue escrevendo... Beijos Lu

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  2. Lelo! Até que enfim eu leio um blog decente e que valha a pena ler. Gostei do seu ser inconformista conformado... Sucesso nos devaneios! Um grande abraço, de uma eterna aluna da vida e grande admiradora sua, Mariana M. Notari
    www.mamiimari.blogspot.com

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