Rabisco um
guardanapo, misturando palavras, desenhos e marcas de saliva, enquanto misturo
cervejas baratas, um destilado amargo e um aperitivo estranho, retirado de um
vidro de conserva que mais parecia pertencer ao laboratório de anatomia de
alguma faculdade de medicina. Em mesas de bar as conversas fluem em velocidade
inconstante, lucidez insensata, mas minhas preocupações parecem fixas no vidro
de conserva sobre o balcão, que parece me encarar de modo insistente.
Subitamente me
sinto parte de uma pintura de Salvador Dalí, observando uma paisagem
distorcida, com risos que parecem derreter-se ao meu redor, enquanto meu foco
se volta a um felino de bigode chamuscado, olho furado e rabo deformado a
roubar pedaços de salame picotados na forma de petiscos sobre o balcão,
enquanto bêbados conversam de modo intrépido - como quem a qualquer momento irá
de encontro ao chão - sobre assuntos aleatórios e desconexos, mas que àquela
altura assumem toda relevância do mundo.
Entregue a
estes terrores noturnos continuo meu processo de purificação, ingerindo doses
generosas de culpa destilada, seguidas de copos gelados de perdão sem
colarinho. Os guardanapos já não possuem ordem, mas fazem todo sentido. Mesmo
que este sentido esteja escondido nas imagens distorcidas que tento visualizar
através do copo cheio de cerveja.
Os risos
obstruem qualquer delírio de sobriedade, as intermináveis declarações de
amizade fazem parte do pacote. A nada elegante senhorita que oferece seus
favores em troca de dinheiro rouba a cena com sua coreografia performática em
cima da mesa de sinuca, na caçapa do canto, enquanto as bolas escapam pelas
redes furadas se alojando por todos os lados do distinto recinto.
O cheiro de
vômito e urina azedam o ambiente, mas mal são percebidos quando misturados ao
suor e ao hálito etílico, pois estes se fazem mais perto do próprio nariz do
que o banheiro. Tudo tão cheio de vida, tudo tão puro e desinteressado, que nos
faz sentir como uma família. Tudo tão intenso e ao mesmo tempo tão pronto para
ser esquecido mais uma vez... não fossem os guardanapos no bolso de minha
calça...
KKKKKKKK!!!
ResponderExcluirmuito bom... ri muito com o vidro de conserva e a puta!
Isso se chama ácido lisérgico na mente
ResponderExcluiro rapazinho aí é caretão, soh toma bera! (e pra caralho!)... não é ácido não, apenas criatividade e sensibilidade pra expressar o mundo ao seu redor
Excluir#tenso kkkkk. Mas muito bom
ResponderExcluircaraca! que psicodelia pura!!!
ResponderExcluirum dos melhores textos do blog!
tu eh foda lelo