domingo, 15 de maio de 2011

ANDAVA POR AÍ


Andava por ai, sem saber o que fazer, sem saber para onde ir... sem hora certa para parar, sem parada mesmo quando parava.
Procurava... nas esquinas, nas meninas, em corações vazios e belas embalagens. Encontrava sempre quem não me fazia encontrar-se.
Estava onde nunca estive: aeroportos e cinemas, estranhas estradas, inéditos enigmas, literatura de esquerda virando a direita na próxima esquina.
Estava na dicotomia da camisa do Ernesto, vendida no shopping, preço indigesto, mercado funesto, impensado protesto... Procurava Jesus, abandonava ao resto.
Toda semana por um sábado a noite, todas as noites por um olhar que só enxergava de olhos fechados, no vazio da memória, nas projeções freudianas, na metafísica dos cenários românticos que constroem sonhos que não me deixavam dormir.
Respirava fundo no vácuo e mergulhava no concreto raso.
Esperava o inesperado. Andava fugindo do espelho. Procurava você onde não estava, onde eu não me encontrava, estava na contramão da contradição, negava a negação, respirava aquele ar carregado de concreto abstrato, que faz pesar a consciência e teatralizar a memória, mudar os cursos da história, sepultar as trajetórias traçadas por outros, corroídas por traças, traídos por nossa própria traição.
Na fumaça dos cigarros, nas alucinações de noites insones, regadas a whisky sem gelo e suaves solos de guitarra e violinos distorcidos, vi você entrar... sem hora pra sair, decidida a ficar...
Tingindo com cores alegres as nuvens cinzas de um céu sem tom... tornando até mesmo o que não tem sentido suscetível de sensatez... me embriagando com o brilho do seu olhar... colocando sentido em tudo sem mudar nada... me fazendo entender, mesmo sem querer, que tudo já estava ali, pronto pra ser, do jeito que era, como tinha de ser.

domingo, 1 de maio de 2011.

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