domingo, 11 de setembro de 2011

GUERRA SANTA *


* divagação escrita originalmente em agosto de 2006, apresentada 
e teatralizada numa das mostras culturais do colégio Alfa Plazza.

como se fosse arte, vejo luzes rasgarem o breu do céu
como se fosse festa, gritos ecoam descortinando o silêncio que antes se fazia véu
numa mão a espada e na outra a palavra de Deus
violência disfarçada de desejos de paz, com sabores e odores,
o sagrado brota de qualquer canto empoeirado:
relíquias do passado, tecnologias do presente,
promessas de futuro iluminado
de um lado está Deus, do outro também
está em tantos lugares, seja qual for o nome que a Ele se dê
freqüenta tantos altares: igrejas, templos, mesquitas e salas de tv

católico e protestante, budista, muçulmano e cristão,
judeu e pentecostal, hindu, ateu e até mesmo pagão,
atores e platéia: todos responsáveis, todos tem participação
todos julgados, considerados culpados, condenados,
a este caos e confusão
pão e vinho, corpo e sangue,
crime hediondo de transubstanciação:
do pão não repartido em milhares de corpos pelo chão,
do sangue derramado em cálices de petróleo consagrado
pelo capitalismo enraizado em nosso cotidiano de exclusão
Maomé prefere a cruz e a quem bateu em sua face oferece o outro lado, 
em seguida declara guerra, torna evidente a contradição
Violência revelada, escrita e encenada,
no Bhagavad, na Bíblia e no Alcorão
Buda terrorista, kamikaze, pilota um avião, tem destino certo, 
um novo atentado para sua redenção
Mahavira e Krishna embriagados, mais uma festa pagã,
Dionísio e Baco, da uva o vinho, do paraíso a maçã
E a nação do Destino manifesto, democracia ao contrário,
no dólar a face Cristo, como uma imagem no sudário

um só Deus mesmo sendo vários,
algumas vezes ópio do povo nas mãos de mercenários
enquanto isso, eu, você, apenas mais um numa multidão de otários
Deus não está morto, nem pode ser culpado por essa extravagância,
se tornou justificativa da 
Guerra... Santa... Santa... Ignorância

4 comentários:

  1. belo texto!

    ler mais, beber mais
    eis a solução do enigma!

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  2. Ótimo texto!Um dia ainda espero entender essas pessoas e religiões, que matam em nome de seu deus.

    Aninha

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  3. Lembro até hoje de ter falado " do pão não repartido em milhares de corpos pelo chão,
    do sangue derramado em cálices de petróleo consagrado" excelente texto!

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