domingo, 6 de novembro de 2011

PELA LIBIDO




Por mais de uma vez se sentiu sozinho naquela tarde. Seus olhos percorriam corpos, perdiam-se em curvas, insinuavam desejos e pareciam gritar a insanidade que pulsava em suas veias. Sentiu vontade da saliva, do suor, da pele macia, dos cabelos presos entre os dentes... sua mente explodia em um turbilhão de desejos, por vezes acomodava melhor o corpo em sua cadeira como forma de disfarçar estímulos e impulsos que sensivelmente percorriam sua pele.
Não conseguia pensar em outra coisa, ficou paralisado, observando o corpo de lado, os contornos da boca, os lábios desenhados, a calça que marcava os quadris bem acinturados, os seios pequenos e a barriga levemente, talvez propositalmente, a mostra.
Naquele momento sentia-se demasiado envolvido, consumido pela libido, seduzido pelo perigo... seus olhos tinham a fixidez de uma tela expressionista e disfarçar era algo impossível, incabível...
Quando ela virou-se em sua direção, um pouco sem jeito, e encarou-o fixamente, de modo tímido, mas muito segura do que queria, ele, homem feito, barba na cara, sentiu-se um menino. De cabeça baixa, com olhares fugidios, mal conseguia fitar outra coisa que não o bloco de rascunhos e as canetas que tinha a sua frente. Reprimia a si mesmo e não sabia o que fazer.  Mal parecia o homem decidido e seguro de si, transbordante de avidez e que há pouco se fazia dono da situação. 
Perdeu o chão, perdeu a rima, esqueceu-se do refrão. Dali até o final do expediente disfarçou por horas afazeres e preocupações. Assistiu-a se perder ao fechar a porta do elevador e rumou direto para casa. Dispensou suas já conhecidas revistas inadequadas para menores e decidiu ficar a sós com suas fantasias e desejos, repelidos pela timidez e insegurança. Alimentou suas lembranças, desenhando loucuras de olhos fechados e com as mãos ocupadas, até relaxar e dormir.

5 comentários:

  1. Pesada, mas bem boa. Será que isso aconteceu ou é só ficção?

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  2. Pois é... a ideia era essa, fazer um texto pesado, se aconteceu não sei, mas a inspiração veio do relato de um amigo, há um tempo atrás... aí quando comecei a escrever, fui imaginando uma cena vivenciada dentro do contexto e sentimentos que ele poderia estar passando... não sei quem é vc, mas obrigado pelo comentário.

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  3. Muito bom, Marcelão! Quantas vezes temos a oportunidade de realizar desejos - carnais ou não - e nos contemos e permanecemos apenas no desejo distante e não-realizado.

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  4. Ótimo texto sr. Marcelo...

    sua produção é muito interessante. Seus personagens são envolventes e intrigantes, sua formação é em psicologia?

    Continue nos agraciando com seus ótimos textos e poesias...

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