terça-feira, 8 de maio de 2012

NÃO MAIS QUE PALPITES




Vi coisas que fizeram meus olhos tremerem, não pelo medo de enfrentá-las – pois o medo muitas vezes é um de nossos melhores aliados –, mas pelas lágrimas que marejaram os olhos, me fazendo navegar para um infinito que se encontrava no passado ou, talvez, em outra dimensão. Respirar tornou-se um exercício cuidadoso, por mais que se inspirasse todo a atmosfera para dentro dos pulmões, as freqüências cardíacas tornavam a respiração algo complexo demais para se fazer com tranquilidade.
As emoções confundiam os sentidos, distorciam as funções vitais. Os pensamentos não eram claros, os limites físicos do tempo-espaço pareciam se desmaterializar como o vapor condensado da respiração em dias frios. Tive medo por não te ver por um instante. Meus sentidos se encheram de aflição e minhas certezas se tornaram não mais que palpites.
Com um mapa nas mãos me apontando a direção, não sabia qual era o seu lado certo. Todas as rotas pareciam estar distorcidas. Todos os carros pareciam correr na contramão. Todas as dúvidas podiam ser vistas estampadas na parte interna de minhas pálpebras e de olhos fechados ou abertos as via correrem por entre imagens turvas e emoções fora de foco: e se o sol não nasceu à leste? E se esse frio for o verão? E se o combustível não abaixar? E se os lençóis ao meu lado continuarem a amanhecer vazios?
Insensatas fraquezas, tão estúpidas quanto nossas certezas. Fraquezas inexatas, tão imprecisas que transparecem toda sua beleza, pois é justamente nelas que enxergamos aquilo que as luzes da cidade, o movimento apressado dos carros e das pessoas, as contas do mês, não nos deixa perceber... que a hora de amar é agora, que toda dor é inevitável, mas o simples gesto de um sorriso, o leve toque dos lábios, coloca todo o universo nos limites de uma equação. 
Tudo é perfeito mesmo quando imperfeito. O infinito se finda logo ao dobrar a esquina. Mas também as figuras enxergadas nas nuvens são eternas, assim como o vapor outrora expirado. Pois descomprometidas risadas de piadas tão espontâneas que fora do seu contexto não teriam a menor graça, só assumem sentido quando dois olhares se refletem um no outro, acalmando a respiração, fazendo todas as funções vitais ser algo sem importância e completamente despercebidas.

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