Vi coisas que
fizeram meus olhos tremerem, não pelo medo de enfrentá-las – pois o medo muitas
vezes é um de nossos melhores aliados –, mas pelas lágrimas que marejaram os
olhos, me fazendo navegar para um infinito que se encontrava no passado ou,
talvez, em outra dimensão. Respirar tornou-se um exercício cuidadoso, por mais
que se inspirasse todo a atmosfera para dentro dos pulmões, as freqüências cardíacas
tornavam a respiração algo complexo demais para se fazer com tranquilidade.
As emoções
confundiam os sentidos, distorciam as funções vitais. Os pensamentos não eram
claros, os limites físicos do tempo-espaço pareciam se desmaterializar como o
vapor condensado da respiração em dias frios. Tive medo por não te ver por um
instante. Meus sentidos se encheram de aflição e minhas certezas se tornaram
não mais que palpites.
Com um mapa nas
mãos me apontando a direção, não sabia qual era o seu lado certo. Todas as
rotas pareciam estar distorcidas. Todos os carros pareciam correr na contramão.
Todas as dúvidas podiam ser vistas estampadas na parte interna de minhas
pálpebras e de olhos fechados ou abertos as via correrem por entre imagens
turvas e emoções fora de foco: e se o sol não nasceu à leste? E se esse frio
for o verão? E se o combustível não abaixar? E se os lençóis ao meu lado
continuarem a amanhecer vazios?
Insensatas
fraquezas, tão estúpidas quanto nossas certezas. Fraquezas inexatas, tão
imprecisas que transparecem toda sua beleza, pois é justamente nelas que
enxergamos aquilo que as luzes da cidade, o movimento apressado dos carros e
das pessoas, as contas do mês, não nos deixa perceber... que a hora de amar é
agora, que toda dor é inevitável, mas o simples gesto de um sorriso, o leve
toque dos lábios, coloca todo o universo nos limites de uma equação.
Tudo é perfeito mesmo quando imperfeito. O
infinito se finda logo ao dobrar a esquina. Mas também as figuras enxergadas
nas nuvens são eternas, assim como o vapor outrora expirado. Pois descomprometidas
risadas de piadas tão espontâneas que fora do seu contexto não teriam a menor
graça, só assumem sentido quando dois olhares se refletem um no outro, acalmando
a respiração, fazendo todas as funções vitais ser algo sem importância e
completamente despercebidas.
Lindo prof...
ResponderExcluirjá estava com saudade dos seus textos maravilhosos!
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